terça-feira, 30 de julho de 2019

Resenha: Gabriela Cravo e Canela

   Eu estava precisando de um livro mais tranquilo ou com uma temática mais suave, sobretudo depois dos subterrâneos da Liberdade. Como eu havia comentado em resenhas anteriores, certas leituras densas não estavam sendo demais para mim. Não fluía e eu não aproveitava.
   Gabriela, de certa forma, ajudou numa melhor dinâmica nos livros, mas já adianto que eu depositei uma grande expectativa na obra, na qual não atingiu o que eu esperava, infelizmente.
   Certamente é um dos livros mais conhecidos e traduzidos de Jorge Amado em todos os tempos. 
Depois de um desvio de eixo espacial, voltamos a nos encontrar na Bahia e, em especial, Ilhéus, no auge dos anos vinte, com uma modernidade e desenvolvimento do urbano dessa cidade baiana. 
   Nesse livro acompanhamos a história de amor entre o árabe Nacib, um homem importante que busca por ascensão social, e Gabriela, uma retirante do sertão nordestino que anseia uma vida melhor na fervorosa Ilhéus.

  Nacib, que era dono de um bar, perde sua cozinheira Filomena, logo o árabe se vê perdido pois está prestes a dar uma importante festa. Assim, passamos uma boa parte do livro (que confesso que achei chatíssima a primeira parte), entre a ambientação, apresentação dos personagens e a busca de Nacib por uma cozinheira nova.
   Nessa busca por uma cozinheira, Nacib encontra Gabriela. Uma mulher bem resolvida, bonita, humilde, divertida e sensual, que conquista com simpatia todos a sua volta.
  O que mais me interessou na obra foi o contraste e a apresentação da moral, costumes, modernidade, luxuria e pobreza.
   Não darei spoilers, mas posso adiantar que o romance entre Nacib e Gabriela será envolvido de muita paixão, e regrado de velhos costumes nos quais Gabriela lutava ferozmente.
   Na busca pela liberdade, a protagonista enfrentará o preconceito, tabus, machismo e opressão.
   Acho importante dizer, por fim, um exemplo que me marcou na leitura do livro, a morte logo no começo do livro dos amantes Sinhazinha, esposa do coronel Jesuíno, entre o dentista da cidade Dr. Osmundo. Ao pegar o casal no flagra, o coronel não pensou duas vezes em assassinar os dois com sua espingarda para, assim, reconquistar sua "moral vítima da traição". O mais bizarro disso tudo é que esse ato era aceitável, ou melhor, a única saída para os atos de adultério. Realmente Bizarro. 
   

   Antes de me despedir, gostaria de dizer que Gabriela é uma das personagens mais marcantes de nossa literatura brasileira. Senti algo parecido quando lia Iracema, de José de Alencar, as duas personagens são um reflexo do povo brasileiro, ungido de personalidade, simpatia, amor, e guerra interna com seu eu próprio e as questões sociais à sua volta.
   Convido vocês a conhecerem essa história gostosa, sensual, chocante e  muito bem construída pelo nosso amado Jorge.


9 comentários:

  1. Em minha opinião o livro Gabriela, cravo e canela é muito bom de letra e compreensão fácil, agradável, diferente dos subterrâneos da liberdade que foram bem pesados.
    Gostei da União, da amizade que Nacib tem com seus fregueses que na verdade são seus amigos, porém não gostei quando eles dizem que mulher serve apenas para cozinhar, cuidar da casa e dos filhos, enquanto o homem sai, trai a mulher, prende ela e quando ela faz o mesmo acaba em óbito. Como o livro é de uma época antes da nossa, é compreensível esse tipo de pensamento.
    Um personagem marcante além de Nacib e Gabriela foi malvina, por ela ter uma mentalidade futurista, por ela ter saído de casa e ter ido viver sua vida sem a necessidade de casamento forçado. Além disso outra cena que me marcou foi quando o político que estava com Ramiro fez as pazes com mundinho Falcão. Ele mostra que era possível um Ilhéus melhor e mais evoluído sem brigas e matanças.
    Se fosse necessário uma nota de 0 a 5 com certeza daria um 5 e recomendaria aos amigos.
    A obra em si é muito boa como já disse anteriormente, a obra satisfez algumas de minhas expectativas e mostrou com maior realidade como foi a evolução de um Ramiro onde se fizesse algo de errado já era morto e de um mundinho Falcão onde tudo é novo, onde Ilhéus tinha de crescer E muito economicamente.

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    1. Amei seu comentário, Júlia! Muito obrigado pela companhia nesse projeto e, mais uma vez, fico feliz que tenha gostado do livro do mês! <3

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  2. Eu amo Gabriela, a releitura foi boa. Acho que livros são lidos de diferentes perspectivas. O livro trás não só Gabriela como mulher forte, mas tbm outras como Malvina. Jorge sabia representar bem a opressão da sociedade em relação ao comportamento feminino.

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    1. Acho sensacional essa habilidade de Jorge em representar as opressões em seus livros. Acho que é unânime que todos gostaram de Malvina! <3

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  3. Eu gosto muito desse livro e do embate que ele traz entre o velho e o novo. O livro começa apresentando uma sociedada tradicional e patriarcal, na qual, por exemplo, um coronel mata a esposa e o amante, em nome da honra (e da tradição, dos bons costumes, etc). E ao longo do livro assistimos ao embate entre essa sociedade e algumas forças modernizadoras, os ventos do progresso, politicamente personificados no Mundinho, que representa o declínio do coronel e a chegada do novo. E aí circulam diversas personagens femininas interessantes, representando diferentes papéis das mulheres nessa sociedade (Malvina, Sinhazinha, etc.). Acho que Gabriela, com sua liberdade, deve ter sido um grande avanço para a época. Mas ainda é um avanço relativo, ela se liberta de algumas amarras, mas ainda é uma mulher que aceita apanhar do homem, que aceita um papel definido pela cama e pela cozinha. Então ao mesmo tempo em que ela rompe com o tradicional, ela ainda é submissa aos interesses masculinos e aos papéis definidos pelo patriarcado.

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    1. Muito relevante seu comentário. Certamente Gabriela foi um gatilho de Jorge em dar mais relevância do papel da mulher na sociedade e nos moldes que a oprimia. Ainda que Gabriela não lutasse, de fato, ela apenas se permitia.
      De certa maneira, podemos pensar numa personagem contraditória, mas se pensarmos na época que o livro foi escrito e concebido, ainda mais com o contexto brasileiro da época, temos um livro que revolucionou.
      Muito obrigado pela participação e nos temas importantes que sempre levanta, Regina! <3

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  4. Reler Gabriela foi gratificante, a primeira leitura nos anos 70 me surpreendeu com a liberdade de Gabriela,a paixao à seu modo por Nacib . Triste a condição de nos mulheres sendo mortas pelos companheiros em defesa da honra e que em mais de meio século mudou muito pouco.Jorge sempre atual, mostrando as desigualdades.Recomendo a leitura.

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    1. Fico muito feliz com sua participação, Sônia! Adoro-te! <3

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  5. Gabriela, é um dos melhores livros do Jorge, já que de uma forma fantástica ele consegue mostrar aquele lugar, eu amo demais!!

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