quarta-feira, 12 de junho de 2019

Resenha: Os Subterrâneos da Liberdade #lendojorgeamadoliterall

   Boa tarde, queridos leitores! Como estão? Depois de um período sem aparecer por aqui, hoje apresento a resenha de três ótimos livros. Os Subterrâneos da Liberdade, trilogia de Jorge Amado que fora dividido em três volumes: Os Ásperos Tempos; Agonia da Noite e A Luz no Túnel. Esses publicados em 1954 traça uma marcante crítica à ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas. Logo, esses livros ficaram famosos e reconhecidos como panfletários de Jorge. 
   Como são três livros, abordarei alguns aspectos de cada livro nessa resenha de hoje.

  1. Os Ásperos Tempos
   Nesse livro, recapitulamos o golpe de estado promovido pelo ex presidente Getúlio Vargas, que instaura seu período ditatorial do Estado Novo. Nesse livro temos, sobretudo, a visão antagônica do protagonismo, dando fala desde as classes operárias, militantes e os pobres, até os grandes fazendeiros e a alta burguesia em geral.

   Buscando alianças para afirmar seu governo e a própria ditadura, Vargas estabelece alianças com personagens das forças armadas e classes conservadoras. Além disso, para poder se firmar, Vargas propõe e cria seu inimigo, o Comunismo e seus defensores. 

  O interessante da obra, além do excelente retrato social e político retratado, se baseiam nos personagens, isso em todos os livros, nas quais são os personagens reais da nossa história, Como Vargas, Armando Sales de Oliveira, Luís Carlos Prestes, Plínio Salgado entre outros.
  O retrato da influência paulistana é muito bem apresentado no livro, como o Banqueiro Costa Vale, que consegue manipular e exercer sua influência como deseja. 
Entre muitas discussões, ideais a serem seguidos e a questão política intrinsecamente presente, somos bombardeados de informações, que confesso serem um pouco maçantes nesse primeiro livro. Temos uma diversidade de personagens, todos muito importantes para a narrativa. Deste, ressalto o romance entre a militante Mariana e seu companheiro João. Nessa história de amor, acompanhamos os sofrimentos das distâncias promovidas por eles mesmos e suas ideologias. O tocante é que, mesmo as barreiras sendo impostas, o amor vive e prevalesse, seguindo a lealdade às suas ideologias e no que acreditam. 

2. Agonia da Noite
   Nesse segundo volume da trilogia, somos apresentados ao Estado Novo e as primeiras medidas do governo de Vargas, além do contexto exterior que vivia a Segunda Guerra Mundial e a resistência pelo Partido Comunista no Brasil.
Sem dúvida, esse é o livro mais pesado da trilogia. Como o próprio título nos diz, ele é agonizante.
Temos grandes cenas passadas no porto de Santos, como a grande greve dos estivadores que se recusaram a carregar um navio alemão (nazista) com café que era direcionado à Espanha. O importante de se notar nesse fato é o mimo que Vargas queria dar ao ditador Franco na Espanha. Como sempre, tecendo laços com tendências imperialistas para fortalecer seu governo.
Mesmo num cenário de catástrofe, ainda temos enredos de amor nesse livro, como a sequência do romance de Mariana e João, e o caso de amor burguês entre Manuela e Paulo. Este amor vivido entre os burgueses é amarrado com convenções sociais impostas pela sociedade da época e um frio jogo de interesses, de ambas as partes.
Nesse âmbito de cálculos frios de para crescer na vida, acompanhamos as tramoias de Puccini e Eusébio de lima, que fizeram de tudo e mais um pouco para enriquecerem. Nesse livro, por fim, vemos uma queda e certa dissolução por alguns companheiros do partido.
Uma parte tocante, e pesada, desse volume está na dramática morte de Inácia e seu filho.
Logo, é uma obra, sobretudo, de muito planejamento e artimanhas políticas e suas consequências.

3. A Luz no túnel
O medo assoa a população nesse livro, que convive com torturas e mortes violentas. As faces do governo ditatorial são marcadas nessa obra, através de muita violência, artimanhas e crises.
Eu, que estava cansado dos livros anteriores que eram pesados, nesse conheci o lado mais violento da trilogia (que não deixa de ser pesado também).
O livro trás a tona a importância da apropriação da terra pelo latifundiário Venâncio, exercendo sua dominação e influência econômica sob capital estrangeiro. Nesse ponto, temos a busca pelos imigrantes para trabalhar em suas terras, uma vez que os caboclos não eram vistos com bons olhos (temos aqui uma crítica alta ao preconceito).
Não foge desse livro as greves e resistências, como a história de Gonçalo, que é dado como morto e tem um importante papel na reunião e restauração do Partido Comunista que se encontrava quebrado.
Como era de se esperar, temos desfechos dos personagens anteriormente apresentados nos livros anteriores, Como Mariana ajudando Vítor a reorganizar e fortalecer o partido; Maria e joão, com um filho; o casamento de Carlos e Manuela e o projeto de Manuela em fundar um balé nacional.

Com uma crise instaurada no Brasil e o Partido reconstruído, a ideologia do comunismo e a ideia passada para a população de que a URSS era uma luz no fim do túnel, seja para a crise interna, quanto externa (no caso a Guerra), era a melhor saída. Logo, a grande "lição" que o livro alude é essa, de que o comunismo e a esquerda, em geral, possuía os melhores caminhos para trazer, de volta, a dignidade à sociedade brasileira. Num último ato do livro, temos o julgamento de nosso companheiro conhecido (e recordativamente utilizado por Jorge Amado em seus livros) Luís Carlos Prestes, na qual ele faz uma menção honrosa à Revolução Russa.

É isso, galera! Confesso que foi bom ter lido esses livros, mas não muito prazeroso. Achei a escrita um pouco carregada e pesada. Havia histórias que se entrelaçavam e faziam todo o sentido, mas isso me deixou um pouco cansado. 
Como eu havia dito no nosso grupo de leitura, eu não estava me sentindo muito bem para ler livros com essa temática no momento. Mesmo assim, foi uma grande experiência e recomendo a todos!
O interessante da obra Os Subterrâneos da Liberdade é que, desta vez, saímos do eixo mais centralizado na Bahia, na qual Jorge retrata seus livros. Viajamos para São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso e até Espanha! 
E vocês, o que acharam?

Ps.: leiam esse artigo super interessante sobre a dialética da liberdade presente na obra! 
Bibliografia auxiliar: 
GIMENEZ, Izabel Cristina Souza. A DIALÉTICA DA LIBERDADE: UMA LEITURA DE OS SUBTERRÂNEOS DA LIBERDADE, DE JORGE AMADO. Trama, [S.l.], v. 2, n. 3, p. p. 87-103, ago. 2007. ISSN 1981-4674. Disponível em: <http://e-revista.unioeste.br/index.php/trama/article/view/276/203>. Acesso em: 12 jun. 2019.