domingo, 25 de dezembro de 2016

#2 Resenha / Análise: Poema de sete faces - Carlos Drummond de Andrade

   Nesse ano, Carlos Drummond de Andrade tornou-se um dos meus escritores favoritos da vida. Devido a sua qualidade literária e a forma como expressa seus sentimentos me cativou de uma tal maneira que eu não pude deixar de considerá-lo como um dos nossos maiores escritores brasileiro e, possivelmente, o nosso maior poeta.  
   Então, hoje resolvi fazer uma resenha/ análise de um dos poemas que mais gosto dele, o Poema de sete faces:

Poema de sete faces
Quando nasci, um anjo torto 
desses que vivem na sombra 
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens 
que correm atrás de mulheres. 
A tarde talvez fosse azul, 

não houvesse tantos desejos.


O bonde passa cheio de pernas: 
pernas brancas pretas amarelas. 
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração. 
Porém meus olhos 
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode 
é sério, simples e forte. 
Quase não conversa. 
Tem poucos, raros amigos 
o homem atrás dos óculos e do -bigode,

Meu Deus, por que me abandonaste 
se sabias que eu não era Deus 
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo, 
se eu me chamasse Raimundo 
seria uma rima, não seria uma solução. 
Mundo mundo vasto mundo, 
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer 
mas essa lua 
mas esse conhaque 
botam a gente comovido como o diabo. 
  De Alguma poesia (1930)


   Lembrando que não sou um estudioso de poesias nem de literatura, eu apenas faço a análise pela super teoria dos meus sentidos (modéstia a parte kkkk).
   Estamos falando de um dos poemas mais importantes de Drummond, um poema em que pode ser lido através de uma análise autobiográfica de Drummond, no poema ele trata de assuntos como a infância, sexo e apelo a Deus, mas vamos por estrofes.
   Na primeira estrofe, o eu lírico encontra-se com influência de um anjo torto manipulando sua vida, dizendo para Carlos ser Gauche na vida, o que significa ser esquerdo/ canhestro do francês, notamos uma questão de uma existência infeliz, um Carlos Gauche diante do mundo e de si.
   Na segunda estrofe, há um questionamento do "eu", fazendo referência do desejo sexual dos homens, criticando que se não existissem esses desejos, talvez não fosse só, talvez ele conheceria o amor.
   Na terceira estrofe, o sentimento de solidão aparece, embora ele esteja rodeado de pessoas, mas nada importa, tudo é indiferente para ele. Há uma afastamento da realidade.
   Na quarta estrofe, o eu-lírico esconde-se atras dos óculos e do bigode, para evitar o contato, a convivência com as outras pessoas, o que o assusta.
   Na quinta estrofe, Há um questionamento do eu lirico a respeito de Deus, que deixou para ele um caminho errante e, por isso, ele é um fracassado na vida. 
   Na sexta estrofe, o eu-lírico diz que seu coração é maior que o mundo, e tamanha grandeza é a sua solidão. A sua tristeza não cabe no mundo, este no qual não se adapta. Afirma que se chama Raimundo, que significa que é uma pessoa poderosa, sábia, é uma pessoa que costuma, tende a se isolar. Quando se conscientiza de que é importante, torna-se capaz de transmitir e dar bons conselhos a todo mundo, só serviria para rimar com mundo, para não resolver, solucionar seus problemas. Acho que é minha estrofe favorita.
   Na sétima e última estrofe, o eu lírico admite ter feito as revelações das outras estrofes porque estava bêbado, isso o encoraja a confessar sua miséria, coisa que não tinha feito se não estivesse bêbado. Deus o esquecera dele, que foi comovido pelo diabo, acabando sem dignidade alguma.
   Embora o tom pessimista seja extremamente marcante nesse poema, a forma como Drummond trabalhou essa breve história foi incrível. As transições das faces com ricos valores metafóricos demonstram sua excelência de escrita.
  Drummond termina seu poema, reafirmando a "profecia" do anjo torto da primeira estrofe, que é ser Gauche na vida.


   É isso galera, espero que tenham gostado da minha segunda resenha do blog, não é bem uma resenha, mas esta valendo, eu não queria deixar de comentar sobre esse poema ainda esse ano, pois fora o ano em que eu o conheci.  
   Vou deixar dois links super bacanas sobre o poema para vocês, o primeiro é a gravação do poema pelo Samuel Rosa do Skank, confesso que não ficou muito bom (kkkkk) mas vale a pena ver.


   E o segundo vídeo é do poeta Aclides Villaça recitando o poema, esse ficou lindo demais.


   

2 comentários:

  1. Parabéns pela ousadia! Concordo que Carlos Drummond é maravilhoso mas infelizmente os novos leitores não apreciam.
    Abraços
    http://meusamoresvariedades.blogspot.com.br

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    1. Muito obrigado Aleee, é uma triste realidade que os novos não apreciam Drummond =/

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